Por Ana Caroline de Sousa Milhomem Rodrigues
Psicóloga. Esp. Saúde da Família e Comunidade.
E-mail: carolinemilhomem@gmail.com
Instagram: @ressignificar_psicologia
As diversas atribuições de homens e mulheres nos dias atuais, podem desencadear no indivíduo sensações de estresse de difícil manejo. Com isso, pode afetar diretamente a qualidade de vida do mesmo, por exemplo, causando alterações no sono, apetite, hábitos alimentares, desejo sexual e consequentemente influenciar negativamente no humor. Entendendo que nem sempre é possível relaxar espontaneamente, é interessante buscar meios terapêuticos de se apropriar da potência e benefícios do relaxamento.
As técnicas de relaxamento aplicadas nos atendimentos clínicos e no âmbito da saúde foram postuladas no início do século XX. Seus efeitos buscam o equilíbrio ao funcionamento psicofisiológico do organismo, ou seja, atuam em respostas somáticas (estado de alerta diante do perigo), em respostas autônomas (estado de relaxamento), assim como no comportamento motor.
A respiração diafragmática é uma técnica complementar que promove relaxamento, comumente utilizada como recurso terapêutico na Psicologia Corporal, Psicologia Transpessoal e Psicologia Comportamental. Podendo ser aplicada pelos demais profissionais da saúde, numa modalidade individual ou grupal. Com intuito de auxiliar o cliente num processo de percepção corporal, autoregulação das emoções e pensamentos, bem como ajudando o indivíduo a lidar com situações de estresse e comportamentos compulsivos.
Os benefícios elencados são diversos (VIEIRA, 2018):
· Estabilização do Sistema Nervoso Autônomo (SNA);
· Aumento da variabilidade da frequência cardíaca;
· Diminuição da pressão arterial (sístole e diástole);
· Aumento da função pulmonar;
· Aumento da função imune;
· Aumento do fluxo de sangue e linfa;
· Melhora da digestão;
· Melhora da qualidade e padrão do sono;
· Aumento do bem-estar biopsicossocial e qualidade de vida.
Acredita-se que as emoções estão diretamente relacionadas ao fluxo respiratório. Um exemplo disso é a perceptível mudança que ocorre, quando um indivíduo está em repouso e “tranquilo”, sua respiração encontra-se lenta e suave. E quando agitado e “preocupado”, encontra-se com a respiração ofegante e intensa. Quando esse segundo modo torna-se frequente e intenso, acarreta prejuízos a qualidade de vida do indivíduo. Surgindo por exemplo irritabilidade, tensão, estresse, fadiga e diminuição do prazer sexual. Em casos crônicos, identifica-se padrões de comportamento ansioso ou depressivo.
A diante outros exemplos de situações em que as técnicas de relaxamento são aplicadas (VIEIRA, 2018):
· Estresse infantil;
· Instabilidade autonômica;
· Depressão e/ou ansiedade;
· Hipertensão arterial;
· Insônia;
· Asma;
· Enxaqueca;
· Dor crônica; síndrome do intestino irritável;
· Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
Dessa forma, vê se a possível aplicação dessa ferramenta por diferentes profissionais da área da saúde. Disseminando uma prática acessível e benéfica a saúde.
Sabendo dos inúmeros benefícios promovidos pelas práticas de respiração diafragmática na qualidade de vida das pessoas. O enfoque desse texto é abordar sobre a eficácia do treino relaxamento baseado na respiração, como recurso para auxiliar as pessoas que passam por situações de estresse.
O estresse, para Marilda Lipp, é uma resposta necessária para que os seres humanos sobrevivam às adversidades. É quando um organismo manifesta resposta físicas e/ou psicológicas diante uma nova situação sendo considerada boa ou ruim. Exigindo que o indivíduo se adapte ao contexto que lhe cerca.
Quanto ao turbilhão de emoções acerca do estado de estresse, acredita-se que ao estabelecer consciência respiratória é possível amenizar o fluxo de sensações internas e percepções distorcidas do ambiente, possibilitando a identificação das emoções e resolutividade do problema.
Compreende-se que a dificuldade de respirar adequadamente está relacionada ao fluxo das emoções, logo, acredita-se que ao melhorar a respiração é possível amenizar tensões corporais e viabilizar o acesso a emoções reprimidas. Permitindo elaborar novo sentido as situações conflituosas experimentadas pelo cliente, com espontaneidade da expressão dos sentimentos.
Estudos indicam riscos e benefícios do relaxamento baseado na respiração. São exemplos de sucesso, em caso de Transtorno de Pânico, atuando na melhora dos pensamentos autodestrutivos e percepções distorcidas manifestas como um comportamento de “luta e fuga” diante de uma situação compreendida como catastrófica. Há indícios de alta resolubilidade na intervenção acerca da obesidade e os padrões do comportamento alimentar, depressão e ansiedade. Resultando desenvolvimento de habilidades como, autocontrole sobre o próprio corpo e emoções, consequentemente reduzindo o estresse. Bem como, auxilia no manejo do comportamento compulsivo diante o uso de álcool e outras drogas. Sendo essas substâncias utilizadas com o intuito de obter prazer imediato e amenizar sensações desconfortáveis advindas da ansiedade e estresse.
Por outro lado, para alguns autores há ressalvas quanto a aplicação da técnica. É preciso tomar cuidado, pois se utilizada em demasia, pode provocar hiperventilação desencadeando ansiedade.
Ainda sobre o uso inadequado das técnicas de relaxamento, estudos indicam que quando aplicadas em pessoas vulneráveis emocionalmente, podem desencadear episódios psicóticos. Ressalta-se que indicação de “terapias respiratórias” aplicadas de maneira indiscriminada, pode proporcionar ao indivíduo uma vivência perturbadora de contato com inúmeros conteúdos que o organismo poderia não suportar, chegando ao ponto de precipitar reações psicóticas. Para o autor, a comunicação é essencial, quando aliada aos momentos de expressão de sentimentos promovidos pelo relaxamento, pois, possibilita ao sujeito um espaço para elaborar as suas próprias emoções e pensamentos.
Por ser um método controlado, a técnica de respiração não é o suficiente para estimular uma postura livre que propicia a expressão de sentimentos. É necessária a condução do terapeuta, tal como a expertise de conduzi-lo nesse processo de autoconhecimento, em meio a um ambiente livre de julgamento e envolto de acolhimento genuíno que promova a tomada de consciência dos seus sentimentos promovendo autonomia diante das suas ações.
A aplicação de uma técnica de relaxamento deve ser estruturada e sistematizada conforme o contexto e o perfil de cada cliente. Para assegurar sua eficiência ao indivíduo é necessário avaliar, acompanhar a aplicação e monitorar os resultados da mesma. Podem ser apresentadas de forma integrada as demais ferramentas terapêuticas fortalecendo o processo terapêutico do cliente.
O treino de respiração diafragmática pode se dar de forma isolada, bem como pode ser utilizado juntamente com demais técnicas das Psicologia comportamental ou cognitivo comportamental.
Na intervenção de comportamentos impulsivos, quando o indivíduo tende a escolher uma ação no intuito de diminuir rapidamente sensações desconfortáveis. Como, por exemplo, uma pessoa diante de uma séria discussão com o chefe, um dia cheio no trabalho e várias pendências para se resolver em casa, percebe o desejo de aliviar as tensões de forma imediata, comendo em excesso alimentos pouco nutritivos e de rápida preparação. Aumentando assim, o seu nível de insatisfação após consumi-los. Nesse caso, o terapeuta irá apoiar o cliente no exercício de reconhecer quais são as emoções que surgem diante da situação problema, por meio do automonitoramento. Com isso, o automonitoramento serve como ferramenta de descrição da prática considerando os aspectos: ambiente, em que situação foi aplicada, quem estava por perto, quanto tempo de execução, as sensações anteriores e posteriores a prática. Servirá como ferramenta para o acompanhamento em seu processo terapêutico. Conciliando com a aplicação da respiração diafragmática. Dessa forma, auxiliando a pessoa atendida compreender que aquela é uma emoção desconfortável, mas de possível intervenção.
A respeito da aplicação da técnica respiratória, para atingir o objetivo de promover homeostase ao organismo para funcionamento adequado do mesmo, é preciso trabalhar o diafragma. Inicialmente convidar o cliente a colocar uma das mãos sobre o tórax e a outra no abdômen. Isso irá auxiliar na percepção corporal. Ao inspirar suavemente o abdômen se expande. E ao expirar, ele notará o abdômen encolhe. Como resultado ocorrerá expansão da caixa torácica e possibilitando maior entrada de ar para os pulmões, tal como a saída do ar por completo. Trazendo fluxo equilibrado da respiração e consequentemente o funcionamento adequado do organismo.
É o sujeito que dirá qual das maneiras de aplicar a técnica lhe será mais útil. Cabendo ao terapeuta a habilidade para diversificar a maneira de manejá-la. Pode-se iniciar introduzindo os conceitos e funções acerca da técnica, fazendo com que o indivíduo se aproprie da mesma, sua funcionalidade e objetivos a serem alcançados. Assim como, ajudando-o a identificar e interpretar as mudanças decorrentes do processo.
Considerando que certas mudanças dos hábitos para alívio das tensões provocadas pelo estresse e ansiedade levam tempo, por meio do uso dessa técnica é possível trazer ao cliente um resultado imediato, por exemplo, a diminuição de uma sensação ansiogênica apresentada ou relatada pelo sujeito. Dando a el@ a percepção de avanço. Por meio disso, motivá-lo no processo de engajamento de novos padrões comportamentais, traçados junto ao cliente.
Dessa forma, vimos que a aplicabilidade da prática respiratória como ferramenta complementar na intervenção ao estresse, é viável para profissionais de diversas áreas da saúde. Sendo que sua ação no organismo pode trazer melhorias no âmbito biopsicossocial e espiritual, a depender da linha de trabalho do terapeuta.
Destarte, é notório que os benefícios do manejo da respiração diafragmática em ampla escala, contribuem significativamente para a intervenção ao estresse e suas comorbidades, atuando na qualidade de vida de pessoas que necessitam trabalhar consciência corporal, lidar com comportamentos impulsivos, autoregulação emocional, fortalecendo o processo de autoconhecimento e autonomia do sujeito.
Sendo assim, ofertar práticas de relaxamento, como a respiração diafragmática é possibilitar à pessoa perceber-se e notar por meio das sensações de tensão no corpo, bem como as suas próprias emoções. Sendo essas nomeadas como, alegria, tristeza, medo, raiva e surpresa. A partir disso, permitir que o indivíduo compreenda suas reais necessidades e possa optar pela ação mais adequada. Saindo do campo da impulsividade, sem deixar que as emoções o controlem e sim, consiga regular de maneira consciente suas próprias emoções. Adquirindo liberdade para atuar no meio em que o cerca.
Então, é importante ressaltar que dar início a algo que parece tão simples é preciso instrução de um profissional com capacidade técnica para tal exercício. Exigindo do profissional o desenvolvimento de habilidades para instruir o seu cliente. Tal como, necessita ser autoaplicada com disciplina e cautela pela pessoa que a utiliza. Sendo indispensável a troca entre profissional-cliente.
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Palavras-chave: relaxamento; qualidade de vida; emoções; controle do estresse e ansiedade.
Referências:
LIPP, M. L. Conhecer e enfrentar o Stress. São Paulo: Contexto. 2000.
MANFRO, G. G.; HELDT, E.; CORDIOLI, A. V.; OTTO, M. W. Terapia cognitivo-comportamental no transtorno de pânico. Revista Brasileira de Psiquiatria. [online]. Junho de 2008, vol.30, pp. 81-87. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000600005&lng=en&nrm=iso> Acesso em: 02/08/2020.
SOUZA, G. H. C. A eficácia da terapia cognitivo comportamental no tratamento da dependência química: a intervenção do treinamento das habilidades sociais na manutenção da doença. Em: Trabalho de conclusão de curso (Graduação) – Centro Universitário UNIFAAT, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Faculdades Atibaia, 2018. Disponível em: < http://186.251.225.226:8080/handle/123456789/133> Acesso em: 02/08/2020.
VERA, M. N.; VILA, J 1996. Técnicas de Relaxamento. Em: Manual de Técnicas de Terapia e Modificação Comportamental. São Paulo: Santos. 1996.
Bibliografia sugerida:
LIPP, M. N. N. Instituto de Psicologia e controle do estresse. < http://www.estresse.com.br/>
VIEIRA, F. M. et. al. O Trabalho Respiratório como Ferramenta Psicoterapêutica: Uma Revisão embasada na Psicologia Corporal. REVISTA LATINO-AMERICANA DE PSICOLOGIA CORPORAL. vol. 07, n°. 01, 2018, p.83-107. Disponível em: < https://psicorporal.emnuvens.com.br/rlapc/article/view/78> Acesso em: 20/07/2020.
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